“Se tentarem roubar minha liberdade, eu não hesitarei em tirar a deles.” Ah, como eu gosto quando uma história encontra uma forma eficiente e impactante de lembrar ao espectador qual o verdadeiro objetivo final do protagonista!

Eren sempre acreditou em liberdade e lutou por ela. Isso sempre foi o que o moveu (apesar de muitas vezes faltar nele protagonismo em si). Eu gosto de pensar no que isso implica. Esse episódio mostra que o Eren manipulou as memórias dos portadores do Titã de Ataque a ponto de convencer o Grisha a fazer o que ele queria. Isso abre toda uma discussão sobre desejos egoístas de pessoas portadoras de grandes poderes e se o Eren tá mesmo caminhando pra se tornar um vilão.

No episódio anterior vimos que o Zeke é apenas mais um na linha de sucessão dos Fritz que quer se aproveitar da submissão da Ymir e usar o poder dela pra impor sua vontade no mundo, e que o Eren se opõe a isso. Aqui, senti que foi acrescentada mais uma dimensão ao personagem do Zeke. O episódio começa com ele querendo provar pro Eren que ele deve ser salvo da lavagem cerebral do pai, só pra isso ser subvertido completamente quando o Eren mostra pro Zeke que o Grisha não cometeu o mesmo erro com ele.

Quando o Eren diz pro Zeke que ele não é nada além do seu rancor, “Um homem patético que ainda é assombrado pelo pai morto”, é um tapa na cara porque é 100% verdade. Tudo que motivou o Zeke até esse ponto foi a mágoa pelo que o pai fez com ele quando criança. Por nunca tê-lo tratado com um filho, mas apenas como uma ferramenta pra restaurar Eldia. O que nos traz à redenção do próprio Grisha, um momento de verdadeira demonstração de arrependimento e amor pelo filho, de realização de que ele foi, de fato, uma bosta de pai. (Eu tive uma bosta de pai, essas coisas mexem comigo, rs.)

Eu tenho muitos problemas com esse poder de transcendência temporal do Titã de Ataque, mas esse episódio foi lindíssimo e fez um bom trabalho, tanto de preparar o terreno pro que vem pela frente, quanto de amarrar algumas pontas que estavam soltas desde a 1ª temporada.

Por mais que eu não concorde com certos pontos do Zeke, de certa forma ele foi bem vítima de tudo, manipulado pelo pai diretamente na infância e indiretamente agora na idade adulta pelo Eren... é uma vida bem triste

E temos aqui um dos momentos mais importantes da série, o plot twist que finalmente explica porque o nome dessa história é "Shingeki no Kyojin" (Titã de Ataque), ou melhor dizendo... Eren Jaeger.

Pode ser que num primeiro contato com esse episódio muitas pessoas fiquem confusas, então vou esclarecer alguns pontos pra fazer todos que assistiram entender melhor o que foi que aconteceu:

Em primeiro lugar, ZEKE E EREN NÃO VIAJARAM PARA O PASSADO. Não existe "viagem no tempo". O que acontece é que através do poder do fundador, aquele que o detém consegue viajar livremente nas memórias de qualquer Eldiano, uma vez que o tempo é infinito na coordenada, não sendo afetado pela lógica de espaço-tempo da "realidade".

Só que o Zeke e o Eren terem entrado em contato inadvertidamente criou um caminho inesperado, e isso tudo só foi possível graças ao poder do Titã de Ataque.

Muitos se questionavam sobre as reais motivações do Eren. Então espera, se o Eren uma vez disse ao Armin que ele estava sendo manipulado pelas memórias do inimigo, será que ele não deveria falar o mesmo de si mesmo? Bem... é aí que está. Não.

"Não importa qual era, o Titã de Ataque sempre buscou a liberdade"

Estava ali o tempo todo na nossa frente! Estava escrito! Decidido! O titã de ataque ao longo de todas as eras foi liderado pela motivação e pelas memórias daquele que se recusou a ser subjugado pelo rei das muralhas, ou pelas pessoas que vivem fora dela. Eren liderou todos até o momento decisivo: a batalha entre Grisha e Frieda na caverna.

Mas como que o Grisha conseguiu "ouvir" e ser manipulado pelo Eren? Se eles não viajaram no tempo, como isso é possível?

Bom, vamos entender melhor: o poder especial do titã de ataque é ver as memórias de seus portadores futuros. Ou seja: o Eren NÃO CONSEGUE ver suas próprias memórias adiante, mas os seus antecessores conseguem ter acesso a suas memórias. E foi isso que aconteceu com o Grisha.

Como o Zeke levou o Eren aos caminhos e o poder do titã de ataque permite acessar as memórias do portador futuro QUE NO CASO É O EREN, o que aconeceu com o Grisha foi que ele acessou as memórias do Eren DENTRO DOS CAMINHOS COM O ZEKE, e isso fez com que ele tivesse uma dupla percepção, a dele própria e a percepção do Eren, de modo que ele pudesse perceber a realidade não só a partir de si próprio, mas a partir do ponto de vista do Eren. Razão pela qual ele fica confuso e extremamente agoniado. Percebam que ele nunca "olha" diretamente pro Eren, ele sempre mantém um olhar meio sem direção: ele não consegue ver o Eren, mas ele SABE que o Eren está ali porque acessou suas memórias. Resumidamente: o que o Grisha "experimenta" é na verdade olhar a si próprio em terceira pessoa.

Agora vocês devem perguntar: por que ele conseguiu enxergar o Zeke?

Eren nota que o Grisha parece ter percepção da presença do Zeke, mas ao mesmo tempo diz "não, deve ser um sonho". Só que ao notar isso, Eren está sob mesma perspectiva que o Grisha, exatamente ATRÁS dele, e a visão do Eren direta é o Zeke. Eren percebeu que o Grisha estava na verdade acessando as memórias do filho e portanto tendo o mesmo ponto de vista que ele naquele momento, o que fez parecer que ele estava enxergando o Zeke. É confuso quando vc tem o primeiro contato, mas é genial!

Lembrando que essa perspectiva de que acessar as memórias é como "experenciar" a memória já teve foreshadow no anime/mangá, quando o Eren está explicando coisas que viu na memória do Grisha/Kruger e no momento em que ele está falando, o flashback do Kruger e do Grisha mostra o Eren no lugar do kruger, como se ele estivesse "vivenciado" aquela memória. É como se vc conseguesse "vivenciar" aquilo. Imaginem como deve ter sido pro Grisha... a experiência louca e completamente fora do corpo que ele teve. Não é a toa que ele enlouqueceu, e o dublador entregou essa cena de forma PERFEITA. Merece um oscar.

E o mesmo se repetiu na cena em que o Grisha abraça o Zeke. Ele não está abrançando o Zeke de fato, ele está abraçando o "nada", mas o Eren se coloca numa perspectiva ideal para que o Grisha veja o Zeke e explique pra ele que não importa o que ele faça, o futuro já está decidido. Zeke olha pra frente, vê o Eren e finalmente entende o que tá acontecendo.

No fim... quem sofreu lavagem cerebral foi o Grisha. E foram essas palavras do Grisha que fizeram o Eren reagir daquela forma ao beijar a mão da historia, que o fez acessar as memórias do pai.

Depois desse momento, Zeke se tornou um dos meus personagens preferidos. É desesperador ver ele finalmente entendendo que sua vida foi completamente diferente do Eren, e que seu pai na verdade se arrepende e muito de tudo o que fez com sua primeira família. Zeke queria muito acreditar que o verdadeiro vilão era seu pai, mas se deparou com uma verdade aterrorizante...

E a trilha sonora impecável, junto de atuações brilhantes... Não tem como, essa história é fenomenal em seus pequenos detalhes.

Não é a toa que o Eren está a concorrer como melhor protagonista e antagonista nos Anime Awards da Crunchyroll 😂
Que revelação bombástica. Adoro essas reviravoltas, o Zeke a pensar que estava no comando tanto que ele é que começou a mostrar as memórias e chega um ponto em que o Eren mostra quem é que manda nessa bagaça. E aquele rosto dele completamente enfurecido após ouvir as palavras da Frieda Reiss? Incrível como o Eren do futuro teve influência em acontecimentos do passado.

"Se você quiser salvar Mikasa e Armin precisa aprender como usar esse poder"

AGORA TÁ EXPLICADO