Escrita por: Amanda Kassis
Este texto contém spoilers sobre o desfecho do episódio.
O sétimo episódio de ‘Murderbot’, intitulado ‘Complementary Species’, faz jus ao seu nome ao mostrar como personagens tão diferentes precisam — e conseguem — trabalhar juntos para sobreviver.
Desde o início da temporada, o protagonista interpretado por Alexander Skarsgård bate de frente com seus clientes, os humanos da PresAux, devido aos diferentes pontos de vista, enraizados em culturas e costumes distintos. Ironicamente, aquele com quem possui mais conflitos, Gurathin (David Dastmalchian), é quem se mostra mais parecido com o ciborgue. Na cena de abertura, a audiência testemunha um jantar ocorrido antes da missão, quando os humanos participam de um jogo de compartilhar memórias agridoces. O desconforto do personagem de Dastmalchian em compartilhar suas experiências vai além do fato de ser o membro mais recente do grupo, mas estando conectado ao seu passado sombrio como espião da Corporation Rim, quando substâncias químicas eram utilizadas para manter controle sobre ele e, aos poucos, o personagem foi perdendo seu senso de humanidade. A cena revela que foi a Drª. Mensah (Noma Dumezweni) que o resgatou, dando-lhe uma sensação de pertencimento e gratidão.
De volta ao presente, Murderbot se aprofunda em sua crise existencial, em que as dualidades de sua natureza orgânica e sintética o confundem — ele é uma contradição ambulante. A Unidade de Segurança, ou SecUnit, admite que poderia deixá-los, mas que não é fácil. Ele contempla os próximos passos para a improvável sobrevivência do grupo ou o fim de sua própria existência, abandonando-os e assistindo à novela até sua bateria acabar. O sentimento é compartilhado pelos humanos que, perto dali, discutem se devem se unir ao SecUnit ou deixá-lo para trás.
“Nós podemos falar sobre isso” é o mantra do grupo apresentado no início do episódio e que, agora, é usado para persuadir o personagem de Skarsgård a remover seu capacete para conversar com eles. Esse capacete também serve como um mecanismo psicológico de defesa, impedindo o contato visual — algo que causa tanto desconforto ao ciborgue. Ao concordar em mostrar o rosto, Murderbot opta por conexões humanas e, pouco a pouco, aprofunda essas relações, ainda que com um certo nível de desconfiança.
O clímax do episódio é bizarro de uma forma que reafirma a peculiaridade deste sci-fi da Apple TV+, que abraça o absurdo desde o piloto. Após um encontro com duas centopeias gigantes que acasalaram em cima do hopper, a escolha de não mexerem nos ovos postos por elas é a salvação da equipe. Ao serem atacados por um SecUnit da corporação GrayCris e Murderbot ser incapacitado, uma das criaturas retorna para proteger sua ninhada e acaba engolindo o inimigo. Na cena, os humanos também tentam ajudar da sua própria maneira, o que não foi útil, mas surpreende positivamente o Murderbot.
Infelizmente, o frágil espírito de união entre o grupo e o protagonista é colocado em xeque, pois o colapso de Gurathin — ferido desde o episódio anterior — relembra os pontos de vista tão diferentes: Murderbot preza pela lógica de salvar a maioria, enquanto o grupo nunca deixaria um membro para trás e têm aversão a quem pensa o contrário. Será que Murderbot arriscará sua vida para salvar Gurathin ou o grupo se separará mais uma vez? Será que todos sairão vivos do planeta? O encerramento da temporada se aproxima, e o confronto entre a PresAux e GrayCris é iminente.
Nota: 8,5