Escrita por: Bruno Domingues
A Apple TV+ continua lançando séries sobre homens em crise de meia-idade, mas dessa vez vemos algo pelo menos fora do senso comum.
Agora, ela abriu as portas da vizinhança com sua nova série Seus Amigos e Vizinhos, disponibilizando dois episódios envolventes que já anunciam seu tom: um drama elétrico no qual a riqueza do subúrbio e um homem em crise são colocados em um embate sobre ética e moral.
No centro de tudo está Andrew “Coop” Cooper, vivido por Jon Hamm (confesso que às vezes fica impossível não lembrar do famoso e insuportável Don Draper). Coop é um gestor financeiro que acaba de perder o emprego, o casamento e — ao que tudo indica — o interesse por qualquer tipo de terapia ou reconstrução emocional saudável. Em vez disso, ele decide que a melhor forma de lidar com sua crise de meia-idade é... Arrombar as casas de seus vizinhos ricos. Porque, claro, sair roubando as casas alheias é muito melhor do que reconstruir a vida.
Porém, Coop não está atrás de dinheiro e sim de significado. De um desafio. De uma forma de sentir alguma coisa, ou qualquer coisa, nessa vida cuidadosamente supostamente perfeita. E é aí que a série brilha: ao expor esse homem em colapso interno, tentando manter a pose enquanto tudo ao redor (e dentro dele) está desmoronando — tadinho do homem branco em crise de meia-idade, não é mesmo?
Os dois primeiros episódios revelam uma vizinhança onde todo mundo tem algo a esconder, lembrando a saudosa série da ABC Desperate Housewives. Cada casa visitada por Coop oferece uma nova camada de hipocrisia, segredos e um senso de moralidade que se adapta ao tamanho da garagem.
A direção de Jonathan Tropper acerta ao criar uma estética fria, quase clínica, que contrasta com os personagens sempre muito fortes e decididos. Os diálogos são dinâmicos e a narração em off de Hamm traz uma melancolia cômica, o que me faz questionar onde esse homem achou que essa decisão seria uma boa ideia.
O grande mérito de Seus Amigos e Vizinhos está na sua capacidade de rir da tragédia dos ricos, lembrando produções como Succession ou The White Lotus, onde tudo se torna irrelevante mesmo ao já ter conquistado de tudo, e isso inclui tanto o protagonista quanto sua ex mulher, seus filhos, seus ex-colegas de trabalho e até sua irmã rebelde.
Coop é um anti-herói moderno, tão perdido quanto narcisista, tentando se manter relevante mesmo após ter passado da idade (segundo o próprio personagem). No fim, nesses dois primeiros episódios,parece estar encontrando esse sentido na vida, mas certamente as confusões vão fazê-lo repensar onde ele se meteu.
A conclusão? Permaneço ansioso para os próximos episódios, curioso para ver as aventuras de mais um homem sem terapia — afinal, vamos roubar os ricos que ganhamos mais.
Nota: 8,5