Piloto Comentado - La Casa de Papel: Korea

Escrito por: Amanda Kassis

Não é só um assalto, mas uma revolução. 'La Casa de Papel: Coréia' é o remake do fenômeno espanhol que conquistou uma legião de fãs ao redor do mundo e, até mesmo, inspirou um assalto real. 

Após a conclusão da saga original, no fim de 2021, e aproveitando o sucesso da produção coreana 'Round 6', o serviço de streaming Netflix decidiu unir o útil ao agradável para anunciar este remake que ninguém pediu. A nova produção apresenta cenas e diálogos bastante conhecidos pelos fãs em meio à uma nova realidade fictícia envolvendo a unificação das duas Coréias, o que traz nostalgia e um pouco de curiosidade, mas será que essa série fará jus à 'La Casa de Papel'?

Um novo elenco estrelado dá vida aos personagens que possuem codinomes já conhecidos. Os 8 bandidos com nome de países são liderados pelo Professor, mas têm histórias de vida diferentes que condizem com a ambientação da série. Na nova narrativa, que se passa entre 2025 e 2026, a guerra entre as duas Coréias acabou e foi iniciado um plano de unificação pacífica. 

Os primeiros passos são: criação de uma moeda única, investimento e geração de empregos, além da integração dos povos em uma região chamada de Área Econômica Conjunta (AEC). Porém, não demora para a população perceber que aquilo é apenas um conto de fadas e que a realidade permanece a mesma para os desafortunados. Os mais ricos ficaram ainda mais ricos, e os mais pobres permanecem sofrendo.

Quem sente essa realidade na pele é Tóquio, mais uma vez narradora da história, uma ex-militar norte-coreana que foi enganada ao imigrar ilegalmente para Seul. Ela se transformou em uma espécie de Robin Hood coreana, roubando e assassinando agiotas que enganaram outras pessoas como ela. Após ser resgatada pelo Professor, quando está prestes a ser presa, se torna completamente leal a ele e conhece o plano de roubar 4 bilhões de dólares. Esse é o maior roubo da franquia.

A Casa da Moeda Unificada da Coréia é o palco para o espetáculo que está sendo assistido pelos olhos atentos dos coreanos e do resto do mundo, e representa a farsa que é essa a união econômica, pois lá é fabricada a nova moeda. A partir desse ponto, o episódio piloto se desenrola de maneira muito semelhante ao primeiro episódio da versão espanhola.

Para refletir a nova localização da trama, os nomes dos coadjuvantes foram modificados, mas suas histórias permanecem, aparentemente, inalteradas. A única mudança relevante no plano do Professor está relacionada à inspetora Seon Woo-Jin, a nova versão da Raquel, interpretada pela atriz Kim Yoon-Jin da série LOST. 

Ao invés de ser seduzida pelo protagonista após um 'encontro' acidental em um café, na nova série os dois já estão saindo há 2 meses, e Woo-Jin não faz ideia de que ele é o Professor. É uma mudança que faz sentido, porque estabelecer um relacionamento romântico em meio ao maior assalto da história sempre pareceu algo forçado da versão original.

Uma nova máscara, novos atores, um novo cenário e um contexto social diferente é o que separa as duas versões. 'La Casa de Papel' foi bem sucedida por conta do carisma dos bandidos e os incontáveis plot twists gerados pelos planos do Professor, que mantiveram a audiência presa à tela do começo ao fim. Porém, ao repetir as mesmas ideias e, diversas vezes, até os mesmos diálogos, o elemento surpresa da história se perde.

É claro que quem não assistiu à versão espanhola se surpreenderá com os planos do Professor, o espetáculo do roubo e o movimento social que é consequência dele. Enquanto isso, os fãs que quiserem conferir a nova versão encontrarão mesmice, um pouco de nostalgia e a inevitável comparação de performance entre os dois elencos.

Sinceramente? O nível de carisma é bem inferior. A voz mansa e o charme do Berlim, a ingenuidade de Rio, o pavio curto de Denver, a inteligência e sagacidade do Professor não são reproduzidos da mesma forma. Estaria tudo certo se isso se mostrasse um ponto positivo, um aprimoramento daquilo que já era excelente, mas não é o que ocorre. Ao invés de um remake, podia muito bem ser uma paródia de alto orçamento. Aqui, o erro foi não utilizar a ideia para criar um assalto completamente novo com planos diferentes, novos diálogos e personagens originais – isso é uma pena e um desperdício de um elenco muito talentoso. 

Quer conferir por si mesmo? Na Netflix já estão disponíveis 6 dos 12 episódios da 1ª temporada. A data de estreia da segunda parte ainda não foi confirmada.

Nota: 6.5