Crítica - 2ªT de The Flight Attendant

Escrita por: Amanda Kassis

Este texto contém spoilers sobre o desfecho da nova temporada.

Em 2020, enquanto a audiência estava confinada em casa, a comissária de bordo Cassie Bowden de ‘The Flight Attendant’ viajava pelo mundo para desvendar o assassinato de um passageiro milionário, antes que ela levasse a culpa pelo crime. O sucesso da série garantiu a rápida renovação, que trouxe novos episódios repletos de mistérios e confusões para a vida da protagonista. Mas, será que isso foi uma boa ideia?

Considerando a temática da série, os novos episódios podem ser descritos como turbulentos. Ao final da 1ª temporada, Cassie realmente parecia estar colocando a vida em ordem: ela admitiu ser uma alcoólatra e que precisava de ajuda, confrontou traumas da infância, desvendou um assassinato, e foi recrutada para ser uma informante civil para a CIA.

A perspectiva de ver Cassie vivendo uma vida dupla, trabalhando como comissária e informante, era animadora, porém a narrativa caótica que era tão atrativa na 1ª temporada acabou deixando diversas pontas soltas e mostrou uma qualidade bem inferior nessa nova leva de episódios.

O retorno da temporada começa com diversas novidades sobre a protagonista: ela se mudou de Nova Iorque para Los Angeles, está sóbria há quase 1 ano, namora há 6 meses com o fotógrafo Marco, e já ajudou em diversos casos da CIA.

Quando Cassie viaja a Berlim para observar e reportar um alvo para a CIA, é claro que tudo dá errado. Ela segue o homem por pura curiosidade, já que a agência nunca lhe dá informações o suficiente, e acaba testemunhando algo bizarro: ele se encontra com uma mulher que parece idêntica à Cassie, que lhe entrega uma maleta. O que tem dentro dela? Quem era o homem? Nunca saberemos.

Na mesma noite, o homem é morto numa explosão e o quarto de hotel de Cassie é invadido. A sua bagagem é roubada e quando seus pertences acabam sendo recuperados, alguns objetos que originalmente não estavam lá são pistas para encontrar quem está se passando por ela.

É assim que o mistério da temporada se desenrola: pessoas são mortas e as evidências apontam que Cassie, de novo, é a culpada. Ao mesmo tempo, ela tem problemas no seu relacionamento, a sua sobriedade está por um fio, e confrontos com a mãe também a deixam cada vez mais perto do abismo. Por sinal, a participação especial de Sharon Stone, como mãe da personagem, é um dos pontos altos da narrativa.

Como se não bastasse o mistério principal, os dramas no relacionamento do casal Max e Annie, e um plot confuso envolvendo o irmão de Cassie, a série ainda insiste em dedicar bastante tempo de tela para Meghan. Ela é a ex-comissária de bordo que fugiu do país após vender segredos do governo americano para a Coréia do Norte e que, agora, quer encontrar o seu caminho de volta. Como é possível desenvolver tudo isso de maneira satisfatória? A resposta é: não dá!

Os episódios não dão dicas suficientes para que a audiência possa descobrir a identidade de quem está se passando por Cassie. Quando finalmente é revelada, a motivação é confusa e decepcionante. Por sinal, a verdadeira vilã é derrotada tão facilmente que parece um plot secundário.

No 8º episódio, os roteiristas decidem trazer de volta um personagem que nem foi mencionado desde a 1ª temporada: Buckley, o assassino do milionário Alex, que foi desmascarado por Cassie. Ele está na prisão e seduz uma mulher, Jenny, para matar a comissária. Outra narrativa sem pé nem cabeça para alimentar os últimos 20 minutos da série e justificar a existência dessa personagem avulsa que se mostrou obcecada pela vida de Cassie.

Ao longo de toda a temporada e, principalmente durante o episódio final, a narrativa usa de um elemento que era um dos diferenciais da 1ª temporada, mas se tornou incômodo: os momentos que Cassie está presa na própria mente conversando com outras versões de si mesma. 

Originalmente, na temporada anterior, ela estava no quarto de hotel onde acordou com Alex morto. Agora, o cenário na sua mente é o lobby do hotel em Berlim, e vemos versões mais jovens da protagonista. A mistura de imaginação e realidade distrai tanto a personagem quanto a audiência, e não acrescenta em nada, ao contrário do quarto anterior que era importante por revelar pistas do assassinato.

Claro que nem tudo foram pontos negativos. Temos Kaley Cuoco, intérprete de Cassie, mais uma vez entregando uma performance visceral, especialmente quando luta contra o vício e nas cenas de confronto com a mãe da personagem. Entre tantos aspectos da história que não pareceram levar a lugar algum, pelo menos aqui vimos o desenvolvimento da relação das duas e o início de uma nova fase.

Outro ponto positivo foi no episódio 4, quando tivemos o retorno da assassina Miranda Croft, interpretada por Michelle Gomez. Em sua participação, ela conseguiu proporcionar algumas das melhores cenas, promovendo alívio cômico em uma série que não deveria ser classificada como Comédia, mas como Drama. Mas quando alguns dos melhores momentos da temporada é apenas uma pequena participação, o que isso diz sobre a série?

A 2ª temporada termina com a promessa de que Cassie está no caminho certo. Ela acabou o relacionamento com Marco e, entre as pontas soltas, ficou o fato de que ela refletiu sobre entrar em contato com ele para conversar sobre o que aconteceu entre eles, mas essa cena nunca foi mostrada. Para uma personagem que quer tanto se tornar alguém melhor, deixar a situação dos dois daquela forma foi decepcionante.

Finalmente, a notícia de que essa é a temporada final de ‘The Flight Attendant’ vem como um alívio para essa produção que deveria ter sido uma minissérie. Após terminar de assistir, o sentimento que fica é que o desenvolvimento pessoal da protagonista na temporada anterior foi jogado no lixo, o mistério da imitadora acabou sendo ofuscado por todas as outras confusões na vida dela e, tentando trazer um último elemento surpresa para finalizar a história em alta, ainda desenterra um vilão que não tinha mais espaço.

Se ainda quiser embarcar nessa turbulenta aventura, a 2ª temporada da série já está completa no serviço de streaming HBO Max.

Nota: 7.5