Escrito por: Tom Carvalho
“Mad Men é uma série clássica”.
Eu lembro de ler e ouvir esse argumento diversas vezes. Mas por qual motivo? Seria o visual da série e seus aspectos vintage que a tornaram um clássico instantâneo? Seriam o roteiro e a quantidade de prêmios acumulados no decorrer de suas 7 temporadas? Como seriador de carteirinha, eu tive que desvendar esse mistério por mim mesmo. E, após a conclusão dessa maratona sensacional (que para mim foi diária por cerca de 4 meses), eu posso dizer que Mad Men é uma série de TV clássica por todos os motivos previamente listados.
Vale trazer aqui alguns fatos que servem a título de curiosidade para quem já viu a série e, talvez, seja um incentivo para quem ainda não a assistiu.
Mad Men foi a primeira série original roteirizada do canal AMC, da rede AMC Networks, que hoje conhecemos muito bem por abrigar séries como Breaking Bad e The Walking Dead. A estreia aconteceu em 2007 e a produção ganhou 16 prêmios Emmy e um prêmio Peabody, entidade que premia as melhores histórias na TV, rádio e na Internet.
Antes de se tornar uma série original AMC, o criador Matthew Weiner, que fez parte do time de roteiristas de Sopranos, teve a ideia principal e escreveu um episódio piloto. A equipe de Matthew tentou vender a ideia para o canal HBO, mas o roteiro seria apenas aprovado se David Chase, criador de Sopranos, servisse como produtor executivo na produção. Weiner não achou um termo justo na época e a negociação não avançou. O canal Showtime também foi procurado, mas, novamente, Weiner não teve sucesso. Tempos depois, a produção caiu como uma luva para o AMC que na época buscava destaque na área de teledramaturgia e Mad Men ganhou um quase instantâneo sinal verde do canal.
Uma das melhores coisas na série é a evolução apresentada na tela. Os personagens são muito bem construídos e evoluem de forma muito realista e precisa. As roupas e os cenários são impecáveis e para quem gosta de riqueza de detalhes, muitos dos itens utilizados representam acontecimentos daquele ano específico e refletem as principais tendências de consumo de cada era. A linguagem, os figurinos, a mobília e outros artigos de decoração mantém a timeline clara e marca muito bem a época em que os eventos acontecem. O roteiro, em muitos episódios, traz pequenos trechos dos costumes e cultura norte-americana da década de 60 e 70 de uma forma totalmente harmônica com o roteiro principal destacando, principalmente, eventos políticos e sociais.
O plot principal destaca a indústria publicitária nos anos 60. Os melhores profissionais da época integravam grande agências na área da Madison Avenue, em Nova Iorque, e eram conhecidos com os mad men não só pelo endereço (sendo o “mad” parte de “Madison”) mas também pelo uso do trocadilho derivado da tradução literal do termo que em português seria algo como “homens loucos”. O termo faz jus aos publicitários da série, pois na produção acompanhamos campanhas publicitárias que se tornam cada vez mais ousadas e manipulativas. A agência publicitária The Sterling Cooper Advertising Agency serve de palco para os preconceitos, tabus e desafios da época, desde a entrada das mulheres no mercado de trabalho quanto o machismo exacerbado, a homofobia, o racismo e os conflitos em diferentes segmentos da sociedade que são vistos até hoje. Meu destaque pessoal vai para o arco que mostra a entrada de funcionários afro-americanos no mercado publicitário e corporativo, o que gerou uma sequência de cenas extremamente desconfortáveis.
Além do astro Jon Hamm como o protagonista Don Draper, vemos aqui um dos primeiros papéis de destaque de Elisabeth Moss, de The Handmaid's Tale, como a determinada Peggy, uma jovem profissional que busca quebrar as barreiras do machismo e ingressar na carreira de escritora publicitária na agência de Draper. Arrisco dizer que a série gira totalmente em torno das histórias, conflitos e da incrível dinâmica entre esses personagens, o que sem dúvida leva o espectador não só a uma reflexão sobre o comportamento e a relação entre os mesmos mas em diversas ocasiões, uma certa raiva e frustração.
Com certeza, essa foi uma das melhores maratonas que eu já fiz. A série segue um ritmo que se adapta muito bem a uma maratona diária e usa de arcos criados para cada temporada com um elenco basicamente fixo, mas com isoladas participações especiais no decorrer da trama.
Mad Men é uma série original AMC e foi exibida de 2007 a 2015 com um total de 92 episódios. Atualmente, a série está disponível no HBO Max.
Nota: 9.0