Escrito por: Pedro Rubens
Desenvolver uma série, com certeza, não é um trabalho fácil. O processo criativo necessita de uma linha que esteja baseada em um determinado gênero, afinal, será necessária a fundamentação daquilo que está sendo proposto. Entregar a conta-gotas os elementos que identifiquem sua produção não é uma boa opção e, talvez, isso seja prejudicial quando opta por mostrar ao mundo sua verdadeira face.
Stranger Things, série original Netflix, chega ao seu quarto volume com os adolescentes de Hawkins vivendo uma vida aparentemente normal até que um mal ainda pior surge anos após os eventos da temporada anterior. Decididos a encontrar a solução para o problema, juntos eles vão à caça dessa ameaça que promete muitas aventuras.
Ser fã dessa série não é coisa difícil. Desde a sua primeira temporada que os cativantes personagens lhe abraçam e fazem você sentir-se em suas respectivas décadas, como seus amigos. Assim nos embalam em histórias emocionantes sobre amor, família, amizade, frustrações e poderes, tudo isso sob a ótica de crianças e suas evoluções até a adolescência.
A nova leva de episódios não é diferente. O carisma dos personagens continua cada vez melhor e aqueles que ainda não haviam sido bem trabalhados ganham mais tempo em tela, vide o caso de Max, interpretada pela brilhante Sadie Sink, e Robin, personagem de Maya Hawke, que foram inseridas na terceira temporada, mas com relevância, de fato, apenas no atual volume da série.
A adição de novas figurinhas como Eddie Munsen e Argyle, vividos por Joseph Quinn e Eduardo Franco respectivamente, atreladas aos rostos já conhecidos formam uma espécie de clube de pessoas improváveis e que só funciona devido a essa improbabilidade e incompatibilidade em tantas coisas. Talvez o único elo no qual eles estão em uníssono seja o desejo de combater o grande inimigo Vecna.
Infelizmente todo o potencial do vilão se prolonga até o último episódio desta primeira parte e quando suas motivações são apresentadas fica a sensação de que por todo o tempo ele havia sido superestimado. Não há justificativa, não há motivo, não há sentimento e nem tampouco emoção.
Por mais que o trabalho de Jamie Campbell Bower seja excepcional e o grande público só consiga reconhecê-lo a partir de agora, a construção de seu personagem é forçada e às vezes até preguiçosa. O brilho desse arco vai embora quando apresentam-no como o vilão e obrigam o público a aceitá-lo como tal.
A inserção de um novo arco na Rússia, única e exclusivamente para justificar o retorno de Hopper, vivido por David Harbour, é vergonhoso. O enredo criado para que isso fosse possível massacra uma das melhores personagens da série! Joyce, personagem de Winona Ryder, sai do posto de mãe superprotetora que faz de tudo para salvar o filho e passa a ocupar o lugar de alívio cômico da série.
Isso sem falar na forma caricata e tosca como os russos são abordados, sempre como personagens burros, estúpidos, idiotas e sem graça, se contrapondo aos americanos que são sempre os mais espertos e inteligentes. Por consequência, a série encara o público como os russos que eles criaram.
Em contrapartida, Stranger Things 4 opta por contar uma história de terror e nisso não deixa absolutamente nada a desejar. A estruturação de obras de terror estão presentes a todo momento, seja pelo suspense constante, a penumbra que paira sobre Hawkins, os momentos de jumpscare, a direção de câmera, efeitos visuais e principalmente pela mixagem de som que nos permite imergir de uma vez por todas na realidade proposta na série.
Seguindo a linha de acertos, a série opta por contar uma história que se passa em 1987 e absolutamente toda a ambientação está perfeitamente alocada para nos proporcionar essa experiência. Até a cinematografia, direção, técnicas de filmagem e edição funcionam de tal forma como se fossem produzidas nessa década.
Stranger Things 4 acerta em cheio ao abraçar o terror e sem medo de fazê-lo, mas conta com um roteiro superestimado, que tenta a duras custas ser grandioso e ter uma história profunda, mas não consegue sair do nível raso.
Nota: 8.29
Não achei tão ruim o plot da Rússia e nem que houve necessariamente um erro de colocar a Joyce pra salvar o Hopper. Não tinha mais ninguém para o fazer. O melhor mesmo seria ele ter morrido de verdade. De qualquer forma, o alívio cômico sempre foi algo presente em todos os núcleos da série e todas as temporadas, não poderia ser diferente agora.
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Eu achei a temporada péssima, eu amo tanto a série, mas esta temporada deixou muito a desejar, fazerem a Eleven como vítima, para mim, foi simplesmente horrível, fora o que vc falou, que eu concordo plenamente, americano mostrando a Rússia, é simplesmente ridículo, poderiam ter evitado esta parte.
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Pra mim o arco da Rússia foi um dos pontos mais altos da primeira parte.
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