Escrito por: Pedro Rubens
Sempre que um spin-off é anunciado surge o debate se de fato era necessário ou não. Por diversas vezes, a produção original é tão boa que a perspectiva de uma outra história enxertada no arco principal deixa os fãs com um pé atrás. Investir nesse tipo de produção pode ser arriscado, mas nem todo tiro vai ser no próprio pé e, às vezes, ele acerta no sucesso.
Better Call Saul, série do canal AMC e distribuída aqui no Brasil pela Netflix, conta a história do advogado Saul Goodman, famoso personagem de Breaking Bad. A série nos apresenta o arco antes dos eventos da série original e como Jimmy McGill tornou-se o advogado criminalista, e trambiqueiro, que tanto amamos.
Talvez o maior acerto da série seja a permanência de Vince Gilligan como seu criador e roteirista. A obra original tem a sua assinatura e aqui seguimos da mesma forma. A todo momento você percebe que absolutamente nada está fora de controle ou que tenha sofrido influência externa, seja de produtora, investidores ou críticos.
Better Call Saul chega na sexta temporada com jovialidade e apresenta uma história que aponta para o fim, ciente de aonde quer chegar e evidenciando todas as suas escolhas, trabalhando detalhadamente cada uma delas. Isso pode até soar como extenso ou cansativo, mas a dinâmica que mistura drama, comédia e algumas pitadas de ação faz com que tudo flua perfeitamente.
O roteiro é muito bem elaborado, adentrando em caminhos que soam perigosos e arriscados, mas, mesmo em meio ao risco, há total domínio criativo e controle sobre o que se propõe. O fio narrativo que conduz toda a história e liga passado, presente e futuro está constantemente em evidência e proporciona ao espectador conhecer histórias secundárias que estão intimamente ligadas à principal.
A materialização de uma história que se aprofunda na marginalização que existe em Jimmy McGill, que atualmente já atende como Saul Goodman, bem como a abordagem detalhada da outra face de Kim, a dupla infalível, é quase perfeita! Enquanto ambos dividem o mesmo arco, ainda administram seus enredos secundários e mergulham a série numa cama de gato que, por vezes, parece não ter solução.
Enquanto isso, as reviravoltas do núcleo envolvendo os Salamancas e Gus Fring, as ações precavidas de Mike e a disputa de cartéis são brilhantemente executadas, dando tempo em tela para cada um explorar sua perspectiva sem se esquecer de quem é o foco principal.
Na medida que a série vai se encaminhando pro fim, os arcos vão se afunilando e de forma orgânica todos os enredos vão se cruzando, mesmo que de forma rápida. Essa transitoriedade abre espaço para compreendermos o desfecho dos personagens secundários, já que conhecemos o protagonista “de outros carnavais”.
Porém, mesmo com essa prévia compreensão sobre a vida de Jimmy, a produção cria expectativa para ver novamente o que já sabemos ou ver novas nuances desde que nosso querido advogado seguiu para o Nebraska. Se veremos um reencontro com seu grande amor ou apenas a solidão da vida após os eventos de Breaking Bad, saberemos em breve…
Better Call Saul termina a primeira parte da temporada final de forma completamente positiva, mesmo deixando plots importantíssimos para a próxima leva de episódios. De toda forma, a série mostra que sabe para onde quer ir e segue, sem pressões, para um final que promete ser impecável!
Nota: 9.0