Escrito por: Pedro Rubens
Poucas séries têm a capacidade de, em apenas um episódio, imergir o público na história de tal forma que ele se sinta presente ali e ao mesmo tempo ciente de que não está. Tudo isso é uma combinação de inúmeros fatores que vão desde a escrita do roteiro até o processo de montagem das cenas, acarretando numa experiência palatável para quem assiste.
Shining Girls, nova série da AppleTV+, é baseada no livro de mesmo nome da autora Lauren Beukes e conta a história de Kirby Mazrachi, que viu sua vida ser destruída após um ataque brutal que por pouco não a levou à morte. Incapaz de esquecer tal acontecimento, investe seus esforços em encontrar o homem que tentou assassiná-la tendo como único aliado Dan, um ex-repórter policial que cobriu seu caso e agora aparentemente está apaixonado por ela.
Protagonizada por Elisabeth Moss e Wagner Moura, a série não se arrasta em contar a história. O piloto já foi o suficiente para apresentar os fatos do passado, os dias atuais, quem são os protagonistas, suas respectivas características e ainda assim apontar o caminho aparentemente doloroso que a temporada seguirá.
Por não ter medo de se arriscar em contar a história, as coisas parecem não fazer muito sentido quando a protagonista aparece anotando as coisas, tendo aspectos de perturbação e constante incômodo. Isso, a meu ver, é proposital na série para fazer com que o público tenha essa mesma sensação de estranheza ao assistir. Bingo! Eles conseguiram.
No centro desse roteiro está a excepcional direção de Michelle MacLaren que parece ter absoluto controle e saber perfeitamente o que está fazendo sem dúvidas nem tampouco dificuldade ao exercer seu papel. Além deste nome, temos a dupla de protagonistas que dispensam elogios, mas ainda assim faço questão de fazê-los…
Elisabeth Moss não precisa provar para mais ninguém o seu talento estrondoso, mas ainda assim demonstra sentir na pele a dor que sua personagem sente sem precisar de close-ups no seu rosto enquanto fica encarando a câmera. Seja nos momentos de timidez diante de uma câmera, seja na angustiante cena da porta, a dor se faz constantemente presente e vem como uma faca dilacerando quem está assistindo.
Da mesma forma, Wagner Moura, alocado como o ex-repórter policial e parceiro de Kirby, apresenta afeto, carinho e preocupação com sua nova amiga e isso fica nítido pela simples troca de olhar entre ambos. Em apenas um episódio o laço já está formado e a dupla já está muito bem conectada e preparada para o que vem por aí.
A parte técnica dá um show à parte. Seja brincando com a palavra iluminação/iluminada, fazendo referência não apenas ao nome mas como se fosse algo constante ao redor das vítimas do assassino, vivido pelo excelente Jamie Bell, seja nos momentos em que isso se torna palpável e temos uma “brincadeira” com o jogo de luz: ora bem iluminada, ora tudo obscuro, fazendo jus a história e ao nome da série.
Shining Girls vendeu, e muito bem, a sua proposta através do piloto. Não tenho dúvidas que os talentos envolvidos na série serão bem explorados e, junto com os talentos que estão por trás das câmeras, entregarão uma série pesada, chocante e assustadora, mas ainda assim brilhante e excepcional. Espero não me decepcionar!
Nota: 9.0