Escrito por: Amanda Kassis
Em um cenário pós-Primeira Guerra Mundial, a nova série de mistério da Netflix mistura elementos de ‘Dark’ e ‘Locke & Key’ para revelar uma conspiração que pode mudar a história de fundação da Turquia. A produção é baseada no livro homônimo de não-ficção por Charles King.
A 1ª temporada de ‘Meia-noite no Hotel Pera Palace’ estreou no início de março com 8 episódios. No piloto, somos apresentados à protagonista Esra, uma jovem jornalista que desconhece as suas origens, mas o destino se encarrega de levá-la em uma viagem – literalmente – para encontrar os seus antepassados.
A sua mais nova pauta é cobrir os 130 anos do Pera Palace, em Istambul, um luxuoso hotel que foi palco de importantes eventos históricos durante a Guerra de Independência Turca – entre 1919 e 1922. Esra é convidada para fazer um tour, onde conhece Ahmet, o gerente do lugar, que conta sobre o mistério envolvendo o quarto 411, que a autora Agatha Christie se hospedou para escrever um livro. Porém, ela desapareceu por 11 dias, e a única pista deixada foi uma chave antiga encontrada no cômodo.
Por causa de uma tempestade, Esra passa a noite no hotel e se depara com a misteriosa chave. Vencida pela curiosidade, ela retorna ao quarto 411 e a aventura começa: quando o relógio marca meia-noite, é transportada de volta para a Istambul de mais de 100 anos atrás, em 1919. Uma época de instabilidade política, quando o Império Otomano foi dissolvido, após a sua participação na Primeira Guerra Mundial, e nacionalistas turcos tentavam expulsar diversos países vencedores da guerra, que haviam conquistado regiões turcas.
Ela conversa com figuras históricas, como sua autora favorita, e explora o Pera Palace em toda sua glória, por acreditar que tudo é um sonho. No meio disso, acaba ouvindo uma conversa que não deveria entre um soldado britânico com sede de poder e o protagonista masculino da série – o jovem Halit – e descobre que pretendem assassinar um importante general, quem se tornaria o primeiro presidente da Turquia.
Esra consegue escapar deles, mas isso custa a vida de outra pessoa: Peride, uma mulher da alta sociedade turca que é simplesmente idêntica à Esra. Sósias? Gêmeas? Parentes distantes? Só o tempo dirá. Mas para Peride aquele é o fim da linha. Ela é confundida com a jornalista e assassinada no quarto 411, o que a impede de cumprir um papel histórico: salvar a vida do general. Se o homem morrer, a Turquia como Esra conhece jamais existirá. Agora, cabe à jornalista assumir a identidade da mulher e ajudar a salvar o futuro.
A protagonista acaba se mostrando a clássica personagem que ignora a regra número 1 de viagens no tempo: não alterar nenhum acontecimento do passado para não colocar em risco o futuro. Entretanto, isso não torna Esra uma personagem clichê. Entre tantas protagonistas que são criadas com a mesma fórmula, a jovem se mostra determinada, alguém que não precisa ser salva, até por nunca ter tido alguém para fazer isso por ela. Também é solitária, mas está aberta a se aproximar das pessoas. Para quem busca figuras femininas poderosas, gostará de acompanhar essa jornada.
A série turca apresenta um vilão verdadeiramente mal, George, o oficial britânico que mandou matar Peride. Sem que os seus superiores saibam, ele planeja, nas suas próprias palavras, “civilizar e salvar Istambul”, restaurando a sua glória de 400 anos atrás, quando uma parte da região que forma a Turquia foi conquistado pelo Império Romano. O personagem é verdadeiramente incômodo por ressoar com muitos acontecimentos e personalidades da sociedade atual. Há também uma lembrança amarga sobre a falta de direitos das mulheres, que ainda persiste em muitos lugares, e a luta por igualdade.
Não há economia em seus belos cenários e até o espectador não familiarizado com a cultura da época vai se sentir transportado para esse tempo tão diferente e importante para a Turquia. Sons, cores, vestidos brilhantes, soldados e artigos de luxo, tudo é muito bem pensado e executado.
Além da mistura dos gêneros ficção científica, mistério e histórico, a produção possui outras tramas que vão conquistar o público. Há a química inegável entre Esra e Halit, criando um plot que atravessa o clichê de enemies to lovers, se tornando uma história sobre dever versus coração – e que foi desenvolvida de uma forma muito delicada. Também temos a bela amizade que se forma entre a protagonista e Ahmet, ele possui seus próprios segredos e uma ligação forte com o hotel, o que faz parte de uma das tramas centrais da temporada.
‘Meia-noite no Hotel Pera Palace’ traz uma narrativa acelerada e perguntas para deixar o espectador quase tão confuso quanto em ‘Dark’. Porém, é interessante que o roteiro não traz aquela frustração de criar apenas mais e mais perguntas, porque vai esclarecendo muitas coisas ao longo do caminho. Para quem tiver a curiosidade de assistir, dificilmente será decepcionado e ficará desejando mais, principalmente após o cliffhanger que pegará todos de surpresa. Afinal, quais segredos o hotel ainda esconde?
Nota: 8.5
Comecei e estou gostando bastante. essa pegada de viagem no tempo e eventos históricos é bastante interessante. E como eu sei pouco da Turquia, está sendo legal pra conhecer um pouco mais sobre.
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Adorei a crítica! Vou dar uma chance a série
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