Escrito por: Tom Carvalho
O gênero chamado de mockumentary ganhou muita força em meados dos anos 2000 com o lançamento de The Office no Reino Unido e eventualmente The Office (versão estadunidense), bem como com Parks and Recreation. Não é à toa que o gênero se estende até hoje e rendeu longas e inúmeras temporadas em uma diversidade de séries ao redor de todo o mundo. Atrelada ao gênero, geralmente se via presente ambientes de trabalho e com o tempo apelos mais emotivos foram incorporados às tramas, o que acrescenta novas camadas a simples fórmulas de histórias focadas em simples piadas sobre a vida cotidiana. Em Abbott Elementary vemos um encontro dessas transformações numa série leve mas que ao mesmo tempo consegue ser realista e com um apelo até então pouco explorado.
Antes de mais nada, é importante ressaltar Quinta Bronson. Ela assina não apenas o papel da protagonista Janine, mas de criadora e parte do time de roteiristas da produção. O exemplo de Quinta reflete outros criadores multifacetados da TV como Rick Gervais, Lena Dunham, Aziz Ansari, Amy Poehler, entre outros. Por meio desses gênios da ficção, vemos que a comédia pode quebrar barreiras e ultrapassar fronteiras que nos entregam séries de TV e filmes inteligentes, sensíveis e de fato engraçados.
Em Abbott, o ambiente é uma escola de ensino fundamental e a série mostra como o time de funcionários da escola lida com a realidade da comunidade em que vivem. Quinta Bronson (Janine) praticamente nos leva de volta ao seu próprio passado considerando que a atriz, cresceu no estado da Philadelphia, pano de fundo para o que vemos na tela. A grande maioria das crianças (pelo menos as que vemos no episódio piloto) é negra e representa uma comunidade que passa por seus próprios desafios. Por mais surpreendente que possa soar, considerando a grande potência mundial que representa, os Estados Unidos também têm muita dificuldade em garantir fundos para educação assim como o Brasil e em várias partes do país professores não recebem salários justos. A série aborda esse tema de forma clara mas muito bem-humorada. Na vida real, professores da terra do Tio Sam são até destaque em notícias que mostram como muitos gastam seu próprio salário em prol das crianças que ensinam e o piloto acertou muito em trazer essa realidade para a trama.
Uma ótima surpresa (pelo menos para mim) foi ver Tyler James Williams de volta ao ambiente escolar da TV não como Chris (da clássica e quase-brasileira “Todo Mundo Odeia o Chris”) mas como o professor Gregory Eddie. Aliás, seria o nome de seu personagem uma referência ao Greg de Everybody Hates Chris? Fica a reflexão.
O piloto me animou muito. Não foram 20 minutos de incessantes gargalhadas mas o episódio de abertura teve momentos ótimos e com certeza despertou a curiosidade de não só como a história deve avançar mas como o desenvolvimento dos personagens deve acontecer. O elenco foi muito bem escolhido na minha opinião. Tem muita cara de hit e sinceramente já dava pra perceber pelos trailers e teasers antes mesmo da estreia. Eu daria uma corrida pra conferir e não ficar de fora do (possível) futuro hype.
O que a série entregou: a impressão de que sabe muito bem pra onde vai e que sabe como tocar em assuntos delicados de forma leve. O elenco de apoio também entregou muito humor com piadas ágeis sobre temas não só recorrentes mas honestos e atuais. Como não amar Ava, a diretora da escola?
O que não veio aí: sinceramente, eu acho que tudo que a série deveria entregar, foi pago. Agora é manter o ritmo que o sucesso vem.
Nota: 9.0