Escrito por: Pedro Rubens
Eu odeio contagens regressivas. Seja nos momentos em que preciso ficar de frente de um relógio fazendo alguma prova, atividade ou até quando estou brincando com meus amigos. Mas também tem aquele tipo de contagem regressiva que paira na nossa mente: quando vou conseguir realizar tal sonho? Quando vou fazer aquela viagem? Quando vou encontrar meus amigos? Esses são apenas alguns dos inúmeros “quandos” que nos deparamos durante a vida.
Kamikaze, nova aposta dinamarquesa da HBO Max, segue uma contagem regressiva. Inicialmente a série aparenta ser sobre um grupo de amigos ricos e mimados, comandados por uma influenciadora digital que aproveitará a viagem da sua família para sediar uma festa em sua casa.
Mas a história não é essa. O roteiro intercala cenas do presente, onde Julie, a protagonista, encontra-se em queda livre dentro de um avião, perdendo o equilíbrio no deserto. Mesmo com o acidente, a personagem consegue sair com vida, mas desejando exatamente o oposto.
A forma como Kamikaze se utiliza de uma contagem regressiva no piloto, e talvez em toda a temporada, fazendo com que funcione e, assim, dite o ritmo da série é incrível. A história da festa em sua casa é apenas o prelúdio daquilo que viria, e claramente a cena final do episódio não se trata apenas de um cliffhanger, mas sim do fio condutor da temporada.
O roteiro entrelaça passado e presente de forma muito bem equilibrada e o incômodo, estranheza e dor da protagonista transpõem a tela e chegam no espectador. Lembro que quando assisti o episódio mandei recado para um amigo perguntando se ele também tinha sentido isso e a resposta foi afirmativa.
Poucas séries conseguem ser tão sensoriais quanto essa e isso talvez aconteça pela forma como apresenta aquilo que se passa na vida de Julie. Seja por takes de stories das redes sociais ou por momentos em que cenas de acidentes da vida real ou ficção se sobrepõem, mostrando o que se passa no seu imaginário. O drama é extremamente carregado, sem pena e sem dó pra fazer a gente sofrer!
Enquanto o roteiro consegue ser brilhantemente escrito e constrói uma narrativa muito bem elaborada, a protagonista vivida por Marie Reuther está muito bem alocada no papel, se entregando por completo. Isso fica evidente não apenas pela transformação física, a aparente perda de peso, o cabelo raspado e afins, mas pela brilhante atuação durante os quase 25 minutos de episódio.
Kamikaze é uma daquelas produções que causam incômodo, fazem você se arrepiar e ficar se questionando se gostou ou não, mas calma, isso é só a sensação natural que a série deixa em quem está assistindo… No final das contas, o saldo é superpositivo e, baseando-se apenas no piloto, temos mais uma grande entrega da HBO Max.
Nota: 8.5