Escrito por: Pedro Rubens
Lembro que durante boa parte da minha infância minha avó sempre costurou. Algo que sempre me chamou atenção era uma colcha de retalhos que ela tinha, com suas inúmeras colorações, xadrez, desenhos, etc. Mas curiosamente, tudo aquilo funcionava bem, era algo ornamentado… Séries e filmes precisam funcionar assim como uma colcha de retalhos: pedaços separados mas que formam uma bela obra.
A quinta parte de La Casa de Papel, dividida em dois volumes, chegou no catálogo da Netflix com apenas 5 episódios que contam a primeira parte do desfecho proposto para o assalto ao Banco da Espanha. O início desse plano se deu ainda na parte 3, lançada em setembro de 2019, e desde então ainda não chegou ao fim.
Se você acompanha a série desde o início pode perceber que durante todas as partes segue repetindo a mesma fórmula. E é curioso perceber como a série seguiu em ritmo decrescente, dado que inicialmente chegou causando alvoroço e trazendo uma produção muito singular e com identidade própria.
Sendo uma daquelas séries que deveria terminar após o fim da segunda parte, La Casa de Papel exauriu a fórmula utilizada desde o início da sua primeira temporada e tornou-se enfadonha, cansativa e viciada em cliffhangers. Sua capacidade para segurar o público está única e exclusivamente na ação frenética e isso incomoda, porque é uma ação inerte aos eventos que podem levar a série adiante.
Na tentativa de trazer energia e vigor para a série, os produtores aparentam ter colocado o dedo na tomada e esqueceram que o máximo que conseguiriam era levar um choque. Chegamos na quinta parte já cansados do mesmo roubo, das mesmas cenas mirabolantes que cortam algum momento de pura tensão e risco para os protagonistas e mostra que até aquilo já estava planejado para eles. O público não só quer como merece ver muito mais do que isso!
Até onde chegou, La Casa de Papel parece uma colcha de retalhos que tinha as medidas perfeitas e sabia exatamente onde parar, mas na perspectiva de lucrar e garantir mais audiência para o streaming, optou por sair remendando novas partes e inserindo novas histórias que destoam e só servem para enrolar o público, sem o mínimo cuidado vide o caso da cena em que tem uma mulher ao fundo cantando mas a trilha sonora é de um homem em um ritmo bem diferente daquele que está sendo visto.
Exemplo claro disso fica por conta das adições nessa nova parte, personagens que até o presente momento só levaram a história para um caminho ainda mais distante do desfecho do assalto. Espera-se que esses novos personagens tenham alguma serventia nos próximos episódios, caso contrário, foi apenas mais uma forma de enrolar uma legião de fãs dessa série.
Se você for daqueles fãs da série, que contam os dias para assistir e ver novamente o time de ladrões tendo êxito naquilo que estão fazendo, possivelmente já está com raiva deste que vos escreve.
Mas queria lhe propor um desafio: pense em tudo o que você viu durante o volume 1 da parte 5 e em seguida traga à memória que faltam apenas cinco episódios para a série desenvolver o final de forma, minimamente, satisfatória. Agora me responda: essa primeira leva de capítulos levaram a história para algum lugar?
Claramente os produtores optaram por uma história que não saísse do canto, na perspectiva de segurar o público para o desfecho que virá apenas em 03 de dezembro. Mercadologicamente falando foi uma jogada de mestre, mas infelizmente não se trata apenas de mercado e sim de qualidade, e nisso a série deixa a desejar.
Se você não liga para roteiro, personagens, arco principal e inúmeras outras coisas que compõem uma série, mas assiste apenas para passar o tempo, então vale a pena ver La Casa de Papel. Infelizmente todo o potencial da parte 1 e 2 ficaram lá atrás e foram sucumbidos pelo desejo de lucrar e fazer a série continuar rendendo.
Nota: 7,3
a colcha de retalhos? foi feita com sacos de lixo!
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