Escrito por: Pedro Rubens
Existe uma certa dosagem que precisa ser adotada na hora de escrever uma série. Um episódio piloto, por exemplo, precisa “preencher” inúmeras regrinhas para: 1) ser aprovado e assim a série seja levada adiante; 2) ser atrativo para o público de tal forma que venda a ideia central, fundamente a proposta mas não entregue tudo, porém, também não pode entregar nada.
Otwórz Oczy, série polonesa da Netflix, segue a história de Sem Nome, uma garota que acorda na clínica Segunda Chance, especializada em tratar pessoas com amnésia. Por não lembrar de basicamente nada da sua vida, a protagonista acorda todos os dias com as pouquíssimas informações que conseguiu lembrar diante do tratamento, porém, começa a desconfiar que algo estranho acontece ali naquele lugar.
Não é novidade para absolutamente ninguém que esse enredo já é datado, enquanto lia o parágrafo acima talvez tenha se lembrado de alguma outra série ou filme que já tenha abordado essa temática. Mas por mais que a série utilize uma fórmula já conhecida, ainda assim há algo que aparentemente soa diferente.
O núcleo principal é vivenciado por jovens, alguns já adaptados a vida ali na clínica, outros ainda dando os primeiros passos. Mas a dinâmica que o roteiro aborda entrelaçando a juventude e dos personagens vivendo sob uma redoma de cuidados e proteção em busca de uma vida que há pouco foi vivida e esquecida, é algo que funciona muito bem.
Talvez por focar tanto nessa dinâmica, o texto perde a oportunidade de contar mais sobre o background e em apenas um episódio opta por focar nas relações dos pacientes e pouco no local onde estão inseridos. Isso não é ruim, mas torna-se desvantajoso porque soa como uma possível falta de fé no próprio potencial, e arriscando em prender o público única e exclusivamente pela possível curiosidade.
O design de produção é bem característico de produções dentro de hospitais, sempre abusando do branco, muita iluminação e aquela sensação mortífera que esses ambientes carregam. Mas ainda assim a fotografia não traz nada que seja digno de destaque e segue o mesmo ritmo no que diz respeito ao figurino e maquiagem, essa última por sinal é péssima!
Por outro lado a trilha sonora funciona como uma das engrenagens que mais movimentam a série. Sejam nas cenas onde tem música tocando ou através dos efeitos sonoros que constantemente dão vida a série, provocando tensão, susto, incômodo ou alívio, tudo é muito bem alocado nos mínimos detalhes.
Outro aspecto que deixa um pouco a desejar é a direção da série. Aparenta ser uma direção experimental, como se tivesse treinando algo novo e por causa disso soa como algo desconexo, incapaz de colocar ritmo no episódio.
Otwórz Oczy não consegue equilibrar a atenção em todos os aspectos que um episódio piloto precisa preencher, mas tem potencial para ser uma boa produção. O que lhe falta é acreditar em si mesma como um todo e parar de se sustentar em pontos secundários que podem levar apenas ao esquecimento, onde clínica nenhuma será capaz de reverter a situação.
Nota: 7,5