Escrito por: Edson Rafael
Não é de hoje que a Netflix investe no mercado de séries e filmes dos mais diversos países. Isso nos traz conteúdo das mais diversas culturas que não somos tão familiarizados até então e passamos a conhecer um pequeno recorte de sua sociedade. Desta vez, lançaram uma minissérie produzida e escrita por mulheres em um dos países que, segundo matéria do jornal O Globo lançada em 22 de abril do presente ano, é um dos piores para uma mulher trabalhar. Segundo o Fórum Econômico Mundial, 86% das mulheres do país estão fora do mercado, atrás até de nações árabes mais conservadoras. Contudo, estes 14% das mulheres trabalhadoras, possuem mais chances de ocupar um cargo de chefia no mundo, afirma matéria do G1 de 09 de fevereiro de 2021. O Brasil fica na 25ª posição. Considerando estes fatos, vamos ao enredo de AlRawabi School for Girls.
A Escola para Garotas AlRawabi é uma instituição de ensino fictícia e bem conceituada no país. As garotas das classes sociais mais elevadas lá estudam. Entre elas, conhecemos mais de perto seis garotas em particular. São elas Layan, Rania (não, não é a da novela O Clone, rsrs) e Ruqayya, um grupo de garotas que fazem sucesso na escola pelas caracteríscas do que considero “Mean Girls”. Temos também as amigas Mariam e Dina, e a novata Noaf.
Mariam sofre muito bullying das três amigas populares da escola, chegando até a ser severamente machucada e ser jogada no chão, levando a um desmaio e sangramento na cabeça. Noaf acaba sendo apenas observadora na nova escola e não sabemos as intenções dela. Sim, é mais uma série sobre bullying, um assunto que tem tomado conta de várias séries teen que são produzidas atualmente. Mas nem tudo é o que parece. Ao ser pressionada para delatar as pessoas que fizeram isso com ela, Mariam resolve não falar a verdade sobre suas verdadeiras agressoras. Engana-se quem acha que ela vai deixar tudo por isso mesmo.
Não encontramos aqui uma história de uma mocinha que se intimida. Mariam planeja vingar-se. Como diz a frase atribuída a um filósofo Chinês, Confúcio: “Antes de embarcar em uma vingança, cave duas covas.” Aquelas que sofrem bullying podem inverter o jogo e se tornarem causadoras de uma cultura que parece não fazer parte de apenas algumas personagens, mas de todas da escola. E é justamente neste ponto que a minissérie me chamou a atenção. Não temos personagens maniqueístas, onde ou são toda boas ou toda más. A linha que divide o preto e o branco é desfeita e uma descrição em tons de cinza passa a ser mais clara e mais de acordo com o mundo real.
O plot muito me lembrou um dos filmes indicados ao último Oscar de Melhor Filme Internacional, Dias Melhores (Better Days), de origem chinesa e disponível no Telecine. Assim como no filme, também encontramos um bullying que causa muito sofrimento aos envolvidos, mas as semelhanças param aí. AlRawabi School for Girls resolve percorrer um caminho onde o ferido pode se tornar fera, pode se desistir e pode reafirmar-se como alguém que traz a justiça. Contudo, o que é justiça?
Entre os 6 episódios entregues pela Netflix, temos altos e baixos, arrependimentos e teimosias, ondas que batem forte ao mesmo tempo que recuam de volta ao mar. É bom estar preparado para assistir personagens cheias de incongruências. A única regra aqui é o bullying e quem sairá por cima da carne seca. Será que elas conseguirão ir até o fim?
Nota: 8.17