Escrito por: Pedro Rubens
Talvez um dos assuntos mais debatidos, ou pelo menos comentados, dos últimos meses tem sido o choque de gerações e a crescente discrepância que há entre elas. O nascimento do termo “cringe”, para se referir à geração X e por vezes até aos millennials, disseminou-se de forma tão rápida que em pouquíssimos dias estava com altos níveis de esgotamento e já não funcionava mais, havia perdido a graça, se é que um dia teve.
Girls5Eva, série exibida pelo canal Peacock, apresenta esse choque de gerações ao acompanhar a história de uma ex-girl band, que dá nome a série. Após o fim do grupo, cada uma seguiu a própria vida e agora anos depois veem a possibilidade de retornar aos palcos, mas para isso precisam adaptar suas vidas fora dos palcos à nova rotina imposta no meio artístico.
A obra de Meredith Scardino encanta não apenas por ser divertida, mas por não exigir muito do público no que diz respeito ao conceito da série. O roteiro não é composto por fórmulas rebuscadas e filosofias complexas, pelo contrário, a mensagem que a série se propõe está nítida do início ao fim!
Por outro lado, temos a assinatura de Tina Fey como produtora executiva e isso pode causar certo incômodo para aqueles que não estão adaptados ao tipo de comédia que ela produz. Aqui em Girls5Eva tudo é exagerado, brega, cafona, com atuações caricatas e, por vezes, até irritante diante da aparente extrema “forçação”.
Ainda que haja essa desarmonia nas atuações, por incrível que pareça as protagonistas são cativantes e conseguem conquistar o público já no primeiro episódio. Isso se dá graças ao ótimo trabalho da equipe de roteiristas, que encaixam as personagens em núcleos que as confrontam consigo mesmas e com os dilemas das gerações subsequentes.
É curioso pensar que uma série dessa temática e nessa estrutura funcione tão bem, mas Girls5Eva tem um saldo completamente positivo por tratar de forma cômica as bénéfices e os malefícios que a globalização e a contemporaneidade impuseram ao meio artístico. Esse é um dos pontos dignos de atenção, dado o humor afiado e crítico sobre a cultura da internet, através das publicidades e permutas, mas também sobre as questões das gerações anteriores, refletindo sobre maternidade, o poder da mulher e sua independência.
Um dos pontos mais positivos da série talvez seja a estruturação, dado que as cenas são
apresentadas de tal forma que se assemelham a um reality show e isso fica evidente pelo esquema de câmera que é proposto através da irregularidade e assimetria existente nos takes, outorgando a ideia central do roteiro.
Girls5Eva, já confirmada para a segunda temporada, sabe divertir o espectador, reacender a chama da nostalgia naqueles que são de outras gerações e ao mesmo tempo permitir uma agregação de gerações. Talvez essa seja a série que todos nós precisávamos para de uma vez por todas exterminar o termo cringe e entender, de uma vez por toda, a respeitar cada geração com suas características e especificidades.
Nota: 8.44
Girls5Eva veio num momento muito propício tanto pro espectador quanto pros artistas que seguem tão limitados em seus projetos nesse período de pandemia...
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