Escrito por: Pedro Rubens
Não é difícil encontrar pessoas que desconhecem produções de outros países, que por vezes até desconhecem a existência de produtoras, conteúdos originais e capazes de propagar ao mundo suas próprias culturas. Faço menção honrosa a Matheus, um dos adms do Banco de Séries, que não só defende produções de inúmeros países com pouca visibilidade, como também criou um quadro de indicação dessas séries aqui no BDS.
JIVA!, a nova série da Netflix, é uma produção sul-africana e apresenta a história de Ntombi, uma jovem que precisa se dividir entre trabalhar para sustentar a casa e cuidar dos seus parentes, dessa forma acaba reprimindo o sonho de viver da dança, mas entende que sua família está acima de qualquer sonho e precisa cuidar dos seus.
Assim, já fica evidente que a história é completamente narrada sob a ótica de uma novela e com alguns poucos elementos que a diferenciam e transformam em uma série, como por exemplo a quantidade de episódios, apenas cinco. Mas nem toda série novelesca consegue criar enredos inovadores e que causem impacto no espectador.
O roteiro não traz nenhum novo argumento, nenhuma nova proposta. Ouso dizer que se você assistiu e gostou de High School Musical, Camp Rock, todos os mil filmes de Se ela dança eu danço, com certeza vai gostar de JIVA! e tudo o que é apresentado, mas vai perceber que a história é mais do mesmo, nada que fuja do que já foi exaustivamente exibido em outras produções.
Se por um lado o arco principal sabe se beneficiar das suas referências e extrair determinadas escolhas para o roteiro mesmo faltando ousadia para inovar, a maior parte dos núcleos secundários e coadjuvantes servem única e exclusivamente como peso, não agregam em nada, e entregam arcos que estão no extremo oposto do arco principal, desconexos e fora da linha principal da série.
Infelizmente a protagonista sofre pela falta de carisma, mas sua melhor amiga Vuyiswa, tem o suficiente para compensar e conquistar o público com seu jeito peculiar e através da sua história que, por ser um núcleo secundário facilmente pode agradar o público mais do que o núcleo principal, sendo esse o único arco exclusivamente coadjuvante que funciona. Inclusive o grupo de dança formado por elas, as Trollies, é muito bom e trabalha perfeitamente bem, tal qual um quebra-cabeças, todas as peças se encaixam.
Mas há algo de extremamente belo e lindo nos cinco episódios de JIVA!
A série não tem vergonha de si, não se envergonha de suas raízes e escancara para o mundo a grandiosidade da cultura sul-africana, com uma aquarela de cores usada de forma totalmente positiva pela equipe de design de produção, que fogem da África apresentada em grande parte das produções audiovisuais e idealizam uma epopéia de cores que corrobora com a narrativa principal.
Não vemos aqui apenas um país que sofre com a fome, seca, miséria e marginalidade, mesmo que a série apresente também esses pontos. O que vemos em JIVA! são pessoas felizes com sua cultura, apaixonadas pelo seu país e que não tentam, em momento algum, esconder e reprimir quem são: seja através das danças exageradas e belíssimas ou através das roupas e penteados.
JIVA! deixa em aberto o futuro das Trollies, com todas as pontas soltas para a próxima temporada, porém entrega uma produção sul-africana de cinco episódios que, vista como uma mini novela, entretém e faz você querer (talvez?) uma próxima temporada, nada mais do que isso, mas sobretudo, abre as portas para a produção de séries de outros países, e suas multifacetadas culturas e ensinamentos singulares.
Nota: 6,7