“Até onde é possível ser forte diante de quem amamos?”
Essa é a frase que a própria Globoplay coloca na apresentação da série no catálogo da sua plataforma e que, pra mim, cumpre perfeitamente o difícil objetivo que é resumir a série. Onde Está Meu Coração é a nova produção original da casa e que abriu dignamente o projeto Summer Season 2021 aqui no Banco de Séries.
Infelizmente ainda é muito comum encontrarmos seriadores que, talvez movidos pelo popularmente conhecido “complexo de vira-lata”, tendem a menosprezar produções nacionais e supervalorizar obras estrangeiras cujas qualidades são, às vezes, duvidosas. Não quero nem me aprofundar sobre essa questão, mas eu abordei esse tema inicialmente porque, se esse for o seu caso, ainda que você comece a assistir essa série procurando algo jocoso pra embasar sua crítica, aqui, com Onde Está Meu Coração, você falhará miseravelmente.
Marcada por uma trilha sonora irretocável, uma fotografia encantadora e atuações extremamente competentes, Onde Está Meu Coração traz uma visão complexa, profunda, dramática e carregada sobre a dependência química e como ela afeta seu relacionamento com as pessoas ao seu redor. É incrível como os criadores George Moura e Sérgio Goldenberg conseguem nos transportar para o universo de Amanda (Letícia Colin) de forma que conseguimos identificar muito claramente como cada personagem da família lida com o vício da protagonista de formas distintas, inclusive a própria Amanda. E por isso podemos ver como cada um responde de forma diferente à primeira pergunta deste texto: até onde é possível ser forte diante de quem amamos?
Seu marido Miguel (Daniel Oliveira) foi forte até o momento em que o seu amor começou a atrapalhar seus negócios. Apesar de carregar consigo parte da culpa pelo vício de Amanda, Miguel tentou ajudá-la, mas pulando do barco no momento em que viu que o comportamento de Amanda gerava risco para sua empresa. Miguel tentou suprir esse amor de outras formas, com outras pessoas. No fim das contas, ele não foi forte o suficiente.
Sua irmã Júlia Vergueira (Manu Morelli) talvez seja a personagem que, de início, já nos causa a dúvida: ela realmente ama Amanda? A sensação é de que Júlia não demonstra força alguma para tentar salvar sua irmã. Por outro lado, apresentando aparentemente princípios puritanos, a caçula demonstra um lado egoísta, invejoso e ciumento, mas sem soar novelesco ou caricato. Ela está sempre querendo algo da irmã, seja seu anel ou mesmo seu marido.
David Meireles (Fábio Assunção), pai de Amanda, é nitidamente aquele de quem a gente esperava mais força, mais amor. Entretanto (e infelizmente), talvez ele seja a figura mais comum de se encontrar nos lares brasileiros. Ele ama Amanda, mas não o suficiente para evitar a fuga. David escolhe fugir da realidade quando volta ao alcoolismo e foge da responsabilidade ao preferir se aventurar com sua amante a procurar Amanda pela cidade unindo forças com a esposa. David é um personagem complexo e que merecia ser mais destrinchado nesse texto, mas vou evitar mais esse textão.
Sofia Vergueiro (Mariana Lima). Ela é a resposta para o que a série propõe. A mãe de Amanda é quem responde até onde é possível ser forte diante de quem amamos. Apesar de identificar e também sofrer com a crise de seu casamento, Sofia é quem ainda encontra força e não desiste de Amanda nem mesmo quando a própria Amanda já tentava desistir de si mesma. E aqui fica a nota de como é incrível que, assim como na realidade, geralmente são as mães que carregam a família nas costas.
Há tantas camadas de complexidade em cada personagem, em como a trilha sonora conversa com as cenas, em como a jornada de Amanda é desenvolvida, que é até um erro eu escrever essa review de forma tão simplória. Mas se isso pelo menos te ajudou a se interessar pela série ou refletir sobre algo que ainda não havia refletido, eu já fico feliz de poder compartilhar essas considerações em algum lugar. Espero que você tenha gostado da série assim como eu e que tenha refletido pelo menos um pouco sobre como nem tudo é preto no branco em situações tão profundas como a da dependência química.
Minha média: 8.85
Média do BDS: 8.57
me surpreendi com a qualidade dessa série e quem tem caso de adicto na família vai sofrer um pouquinho mais. ainda não terminei, mas to recomendando pra todo mundo.
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bom
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