[ENTREVISTA] Olá, seriadores! Como vão? Estou muito feliz em trazer uma entrevista exclusiva com os produtores da minissérie francesa L'Effondrement (The Collapse) do Canal+, que concorreu ao Emmy Internacional de 2020 e que estreia HOJE na AMC Brasil às 22h. A série foi criada por Jerémy Bernanrd, Guillaume Desjardins e Bastien Ughetto e se trata de um colapso em nosso sistema atual.
Sinopse: Uma grave crise se alastra pela França (e provavelmente o mundo inteiro). Multidões estão desesperadas por itens essenciais, produtos básicos estão desaparecendo das prateleiras, caixas param de aceitar cartões de crédito e exigem dinheiro adiantado... Com o caos evoluindo a cada minuto, é uma questão de tempo para que toda a situação saia do controle.
Confira a seguir a entrevista:
1. Como e quando surgiu a ideia de fazer uma minissérie sobre um colapso social?
R: Há vários anos nos interessávamos pela ideia do colapso da nossa sociedade, era um assunto que nos fascinava e ao mesmo tempo nos assustava.
Quando começamos a pensar sobre o show a ideia estava lá, mas nunca tínhamos ouvido falar da palavra colapsologia. Conhecemos muitas pessoas que trabalharam nisso, como Jacques Blamont, Vincent Mignerot, Philippe Bihouix ou Pablo Servigne.
Estamos sempre preocupados com o futuro do nosso mundo e o que fazemos de melhor é contar histórias. Então, naturalmente, quisemos lidar com esse assunto, nos projetar nele e colocá-lo na história.
Basicamente, queríamos fazer essa série sozinhos, autoproduzir tudo e colocar os episódios no nosso canal no Youtube chamado “Les Parasites”. Tivemos a ideia de escrever uma série em seis episódios, um dos quais seria uma tomada em sequência.
Filmamos primeiro o episódio em sequência, o do posto de gasolina, com uma equipe de voluntários. E finalmente, apresentamos ao Canal+, que gostou imediatamente e quis produzir a série.
Reescrevemos todos os outros episódios para que fossem tomadas em sequência e até mudamos o piloto!
Queremos mostrar a fragilidade do sistema e nossa dependência dele. Vivemos em um mundo que achaque temos recursos infinitos.
O IPCC constantemente nos lembra que os desafios a serem enfrentados são titânicos para preservar a civilização humana e a vida na Terra. E o que vemos é que nada grande parece estar acontecendo. Continuamos da mesma forma, embora seja um plano digno de um esforço de guerra que deve ser pensado e isto, à escala global.
Mas o pior é que vemos atualmente o surgimento de governos cada vez mais autoritários no mundo todo, tirando nossos privilégios naturais a todo custo, enquanto alguns dos maiores poluidores do mundo estão voltando atrás em seus compromissos com o meio ambiente.
2. A ideia de que o caos mundial será causado por um fator externo é recorrente em filmes e séries de ficção, onde é abordado invasão alienígena ou zumbi. O quão distópico é L'Effondrement?
R: Há uma multiplicidade de fatores, interligados entre si, que podem levar ao colapso de nossa civilização. Livros como "Comment tout can sassondrer" de Pablo Servigne ou "Collapse" de Jared Diamond descrevem muito bem esses mecanismos.
Acreditamos mais em uma erosão lenta do sistema e muitos colapsos “pequenos”, embora estejamos cientes de que todo sistema tem um ponto de ruptura.
Se na série for um colapso repentino e brutal, foi para servir à narrativa e ao objetivo.
Além de conflitos políticos e pandemias, a morte de ecossistemas, plásticos onipresentes, incidentes nucleares, poluição do ar, aqueles de rios e lençóis freáticos e uma lista tão longa que são problemas assustadores a serem resolvidos, a humanidade tem uma espada de dâmocles* sobre sua cabeça chamada 'mudança climática'. Antes disso e daqui a algumas décadas, bilhões de pessoas terão que se mudar para sobreviver com as secas que levam à fome, aumento do nível do mar, tensões geopolíticas e guerras ligadas à escassez de recursos.
Se você comparar os fatos científicos e o que fazemos para evitá-los, não precisa concordar com as teorias da colapsologia para entender que batemos em uma parede.
*Conselheiro da corte de Dionísio o Velho, tirano de Siracusa, célebre ao longo da história, pelo lendário episódio da Espada de Dâmocles, que se tornou uma expressão que significa perigo iminente.
3. Vocês tiveram inspiração em outras séries/filmes?
R: Nos inspiramos muito em dois filmes: Children Of Men (2006) de Alfonso Cuarón e Victoria (2015) de Sebastian Schipper, que são espetaculares.
Sabíamos que o plano-sequência se adequava perfeitamente ao nosso assunto, todas as nossas situações são muito tensas. Prestamos atenção especial ao ritmo deles. Foi assim que escrevemos e que “editamos” nossa série. Depois da das filmagens não foi mais possível mudar nada. Foi um verdadeiro desafio em termos de roteiro e queremos muito continuar nesse caminho plano-sequência!
4. É possível que futuramente vocês criem uma nova temporada da série?
R: Não, acho que não. Esta série acabou para nós e estamos escrevendo um longa-metragem agora.
No momento, a sinopse é esta: Diante da pressão de uma empresa privada para se apropriar dos recursos hídricos de uma aldeia, um rapaz está organizando resistência. Existem várias maneiras de resistir a esse confronto até que se reúnam em um único ponto de ação tão louco quanto desesperado.
Também vamos fazer em plano sequência :)
5. Os episódios tem alguma conexão entre eles?
R: Sim, todos os episódios estão conectados. Alguns mais do que outros. Deixaremos os espectadores procurarem eles ;)
6. Qual foi o episódio mais difícil de gravar em plano sequência?
R: Este é claramente o episódio 7, The Island! Foi a filmagem mais cansativa que já fizemos, seja em termos logísticos, técnicos ou físicos, foi um grande desafio!
E tivemos muita sorte! Estávamos em uma equipe muito pequena neste episódio.
7. Qual foi sua reação quando foi nomeado para iEmmy?
R: Não esperávamos mesmo a indicação, então ficamos felizes, mas foram mais as reações dos amigos que nos fizeram entender que era algo muito, muito legal !!
Não se esqueçam, a minissérie estreia hoje na AMC Brasil às 22h, e você não vai se arrepender de assistir :)